O que seria de
nosso planeta Terra se não existissem os americanos? No cinema eles novamente
foram os heróis salvadores de nosso mundo em “O Núcleo – Missão ao Centro da Terra” (The Core), uma aventura de
ficção científica que estreou no Brasil em 04/04/03, com direção de Jon Amiel,
a partir de um roteiro de Cooper Layne e John Rogers e elenco formado por
astros como Hilary Swank e Stanley Tucci.
Uma força inicialmente desconhecida (na verdade mais uma conspiração governamental num projeto secreto militar) causou uma terrível consequência ao planeta, paralizando a movimentação de rotação interna do magma fundido em volta do núcleo, a qual mantém o campo eletromagnético responsável por proteger o planeta dos raios solares e por garantir a estabilidade climática do mundo. Como resultado desse incidente, uma série de eventos catastróficos tem início ao redor do mundo, rumando de forma inevitável para um apocalipse final.
Inicialmente,
os distúrbios misteriosos ocorrem com a morte intantânea de dezenas de pessoas
que vivem com aparelhos de marca-passo no coração em Boston, causando diversos
transtornos como acidentes de trânsito; depois com um ataque desorientado de
milhares de pombas em Londres, que ao perderem seus reflexos de vôo passaram a
se chocarem violentamente contra pessoas, carros e janelas dos prédios,
causando um enorme tumulto na cidade (lembrando o clássico “Os Pássaros”/1963,
de Alfred Hitchcock); passando também por mudanças radicais no visual do céu
com a formação de uma estranha aurora boreal permanente; e culminando com um
acidente aéreo envolvendo um ônibus espacial que desviou sua trajetória de
aterrissagem tendo que descer de forma improvisada em Los Angeles, num vôo
rasante por um estádio de baseball e pousando no leito de concreto de um rio
urbano. (Essa cena gerou grande polêmica nos Estados Unidos por causa de um
acidente trágico e real na época de lançamento do filme, com um ônibus espacial
que explodiu ao entrar na atmosfera em sua viagem de retorno, matando todos
seus tripulantes. O trailer promocional chegou a ser retirado dos cinemas e
quase que a sequência do acidente foi censurada do filme. Essas atitudes são
equivocadas, pois a vida real é bem diferente das histórias felizes do cinema,
que são apenas diversão, e o público deve aprender a lidar com ambas as
situações. A dura realidade da vida deve ser encarada com determinação e o
cinema deve ser tratado apenas como um mundo de ilusão e entretenimento.)
Preocupado com
os diversos incidentes estranhos, o governo americano recruta os serviços de um
talentoso professor de faculdade, o geofísico Josh Keyes (Aaron Eckhart),
juntamente com seu amigo especialista em armas atômicas, o francês Sergei
Laveque (Tchéky Karyo), para estudarem os confusos acontecimentos. (Outro fato
curioso: com a guerra no Iraque e a invasão imperialista dos Estados Unidos, e
tendo a França na liderança da Europa como oposição a esse conflito de
interesses econômicos, parece bem inviável na atualidade do mundo real a união
ocorrida no filme entre americanos e franceses, mesmo que por um objetivo comum
de salvar o mundo.)
Após uma série
de estudos e cálculos, o professor Keyes chega à conclusão que o núcleo da
Terra parou de girar e que como consequência ocorrerão uma infinidade de
eventos climáticos que destruirão o planeta num curto prazo de um ano. Ao
informar o laudo para uma cúpula do alto escalão do exército americano, e com a
confirmação do cientista do governo, o arrogante Dr. Conrad Zimsky (Stanley Tucci),
eles decidem criar um projeto secreto para tentar reativar a rotação do núcleo
do planeta através da detonação de bombas atômicas em seu interior.
Para chegar ao
núcleo eles constróem em tempo recorde de apenas três meses um veículo
especialmente projetado pelo Dr. Edward Brazleton (Delroy Lindo), um antigo
desafeto do Dr. Zimsky, um aparelho capaz de perfurar a crosta terrestre e
viajar em alta velocidade por ambientes de temperaturas super elevadas. Para
pilotar a incrível máquina, foram chamados os astronautas do ônibus espacial
acidentado, a Major Rebecca “Beck” Childs (Hilary Swank) e o Coronel Robert
Iverson (Bruce Greenwood), e o time de especialistas da missão ao centro da
Terra foi concluído com os outros tripulantes, o professor Keyes, seu amigo
Sergei, e os cientistas Dr. Brazleton e Dr. Zimsky. Além de um excêntrico
hacker que ficaria no centro de operações do projeto, com a função de controlar
o fluxo de informações e boatos pela internet sobre a missão, conhecido como
“Rat” (D. J. Qualls).
A missão tem
início e a equipe de “terranautas” enfrenta todo tipo de perigos e aventuras
rumo ao centro do planeta para detonar um grupo de ogivas nucleares que numa
reação em cadeia poderiam reativar o “motor” interior, novamente acionando a
rotação das rochas fundidas ao redor do núcleo, e assim poder salvar o mundo de
sua iminente destruição.
O filme deve
ser interpretado unicamente como exercício de entretenimento, através de suas
belas imagens visuais como nas cenas de desastres com a explosão do histórico
“Coliseu” em Roma, por um combinado de potentes descargas elétricas, ou a
famosa ponte “Golden Gate” em San Francisco, vítima do poder destrutivo dos
raios solares quando não foram amparados pelo campo eletromagnético que envolve
o planeta, e que permitiu sua entrada por buracos provocados pela inatividade
de rotação do núcleo da Terra. Ou ainda através das belíssimas imagens do interior
do planeta, num desfile de magmas derretidos e enormes cristais.
Pois a
quantidade de situações inverossímeis, clichês característicos e pouca
originalidade tende ao infinito, típico de filmes de catástrofes sobre o fim do
mundo e onde a humanidade (leia-se “americanos”) precisa encontrar um meio de
salvação num prazo curtíssimo de tempo. “O Núcleo” lembra com grande semelhança
uma infinidade de outros filmes, em especial o recente “Armageddon” (1998), de
Michael Bay, com o perito em escavações Bruce Willis liderando uma equipe
formada por um grande elenco com Ben Affleck, Will Patton, Steve Buscemi, Owen
Wilson, Michael Clarke Duncan e Peter Stormare, na tentativa de explodir um
enorme meteoro que está em rota de colisão com a Terra, voando numa nave
espacial até o corpo celeste e implantando uma bomba de grande potência em seu
interior. A diferença para “O Núcleo” é que a ameça agora vem de dentro do
nosso próprio planeta.
“O Núcleo” já
teve alguns filmes antecessores que também utilizaram o centro da Terra como
ambiente para suas tramas. Em 1959, “Viagem ao Centro da Terra” (Journey to the
Center of the Earth), dirigido por Henry
Levin baseado na clássica história escrita por Jules Verne, mostrava um grupo
liderado pelo cientista professor Lidenbrooke (interpretado pelo astro James
Mason) fazendo uma perigosa expedição rumo ao interior de nosso planeta,
descobrindo a existência de um oceano subterrâneo, além da presença de
gigantescos animais pré-históricos vivendo num mundo desconhecido e restos de
uma antiga civilização intraterrestre. E em 1976, “No Coração da Terra” (At the
Earth´s Core), filme inglês dirigido por Kevin Connor e com Doug McClure e
Peter Cushing, baseado em fantástica história de Edgar Rice Burroughs, um
veículo projetado especialmente para perfurar as rochas do solo, faz uma viagem
para o núcleo da Terra, encontrando uma misteriosa civilização vivendo em seu
interior, além de perigosos animais pré-históricos.
Se o mundo do
cinema pudesse ser refletido para a vida real, nós todos estaríamos
despreocupados pois os heróicos americanos estão sempre prontos para salvar a
humanidade e o nosso planeta de todos os tipos de ameaças, sejam elas do
intrigante e infinito espaço exterior ou mesmo das profundezas desconhecidas da
própria Terra. Mas o cinema é apenas ficção, e o mundo real está repleto de
guerras, fome e violência, com grande participação dos Estados Unidos e sua
política externa equivocada.
Voltando para o campo da imaginação, o melhor a
fazer é relaxar e procurar se divertir com as fantasias apresentadas nos
filmes, mergulhando num mundo onde tudo é possível e há solução para todos os
tipos de problemas.
O Núcleo – Missão ao Centro da Terra (The Core, Estados Unidos, 2003). Horsepower Films / Paramount Pictures / UIP. Duração: 134 minutos. Direção de Jon Amiel. Roteiro de Cooper Layne e John Rogers. Produção de Sean Bailey, David Foster e Cooper Layne. Música de Christopher Young. Fotografia de John Lindley. Direção de Arte de Andrew Neskoromny e Sandi Tanaka. Desenho de Produção de Philip Harrison. Edição de Terry Rawlings. Elenco: Aaron Eckhart (Josh Keyes), Hilary Swank (Major Rebecca “Beck” Childs), Delroy Lindo (Dr. Edward Brazleton), Stanley Tucci (Dr. Conrad Zimsky), D.J. Qualls (Rat), Tchéky Karyo (Sergei Laveque), Bruce Greenwood (Coronel Robert Iverson), Alfred Woodard, Nicole Leroux, Gregory Bennett, Dion Johnstone, Christopher Shyer, Richard Jenkins.
(Juvenatrix - Maio 2003)
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