Fundação (238 páginas), Fundação e Império (244 páginas) e Segunda
Fundação (235 páginas), de Isaac Asimov. Tradução de Fábio Fernandes e
Marcelo Barbão, capa e ilustrações de Delfin. Editora Aleph, São Paulo, 2009.
Como parte de
sua proposta de relançar clássicos da ficção científica, a editora Aleph começou bem com Isaac Asimov em 2009, ao tornar disponível novamente nas livrarias os
três volumes da Trilogia da Fundação. É a obra mais volumosa de
Isaac Asimov (1920-1992) e uma das mais populares da história da ficção
científica.
Isaac Asimov
(1920-1992) é um dos principais autores da chamada Golden Age da ficção
científica norte-americana, vivida basicamente nas páginas das pulp
magazines, de meados dos anos 30 até o final dos anos 40. Uma plêiade de
autores hoje considerados clássicos no modelo ainda hoje mais conhecido do
gênero – com aventuras espaciais e abordagem hard (das ciências
naturais) –, surgiu neste período como, por exemplo, Robert A. Heinlein (1907-1988)
e A.E. van Vogt (1912-2000).
O romance em
três volumes chamado Trilogia da Fundação é, na verdade, composto de
cinco noveletas e quatro novelas publicadas entre 1942 e 1949 na mais influente
revista da época, a Astounding Science Fiction, editada por John W.
Campbell, Jr., o maior responsável por esta nova geração de autores. Apenas nos
anos 50 é que as histórias foram reunidas em três volumes: Foundation
(1951), Foundation and Empire (1952) e Second Foundation (1953).
A publicação em formato de livro valorizou a obra e a popularizou ainda mais,
para além do círculo dos fiéis apaixonados pelo gênero.
A popularidade
da obra é indiscutível, como atesta estes dois exemplos. Em primeiro lugar,
recebeu o Prêmio Hugo Especial de 1966, como “a melhor série de todos os
tempos”, uma distinção única, criada à parte no mais importante prêmio do
gênero. Em segundo aqui no Brasil, no restrito ambiente do fandom, foi
escolhido por duas vezes, o “melhor romance de ficção científica de todos os
tempos”, em votações dos leitores do fanzine Megalon, em 1991 e 1998.
Mais recentemente, em 2013, a revista norte-americana
Locus – The Magazine of the Science
Fiction and Fantasy realizou uma ampla pesquisa com seus leitores, que a
considerou como o terceiro melhor romance de ficção científica do século XX.
A história é uma
grande saga de dimensões épicas que procura mostrar a expansão humana por toda
a Via Láctea. Neste universo não existem alienígenas e nos espalhamos por toda
a galáxia construindo um gigantesco império formado por milhares de planetas,
todos controlados pelo centro político, a capital Trantor. Se você pensou no
Império Romano está correto pois a inspiração é assumida pelo próprio autor.
Mas ele foi além ao apresentar como este poderoso império – a exemplo do romano
– semeia em seu próprio esplendor as contradições internas que o levam à
decadência e violenta dissolução, num retorno à “barbárie”.
Hari Seldon, um
brilhante cientista, cria a ciência da psico-história como um antídoto para
reduzir os efeitos catastróficos da queda do império, prevista por ele para
acontecer em alguns séculos. É acusado de conspirador, mas seu plano é aceito e
posto em prática. São estabelecidas duas colônias de cientistas nos extremos do
império – as fundações – de motivações distintas, para preservar a sabedoria e
a cultura, e continuar desenvolvendo a ciência e a tecnologia mesmo em tempos
de barbárie. Para Seldon não será possível impedir a queda, pois o processo já
estaria adiantado, mas permitir o ressurgimento em apenas mil anos de um novo e
revigorado império galáctico.
A psico-história
é uma ciência que lida com os fenômenos sociais de um ponto de vista coletivo,
adotando, princípios filosóficos de indução e as ferramentas da estatística.
Pode soar pouco crível, mas bebe na fonte das teorias dos jogos, que começaram
a ganhar ímpeto nos anos 1940 e tem servido como um suporte metodológico
importante para as ciências sociais desde então, em especial para a economia.
As diversas
aventuras situadas nos três volumes mostram as turbulências entre o fim do
império e o surgimento de vários pequenos estados despóticos, assim como o
desenvolvimento das duas fundações, que tem por objetivo restaurar a glória
perdida. Contudo, aparece uma situação
não planejada pelas equações da psico-história, um poderoso mutante com poderes
mentais chamado O Mulo, que ambiciona assumir o controle da galáxia.
Há quem veja
também em Fundação os efeitos do contexto político em que a história foi
criada, pois estávamos em plena Segunda Guerra Mundial. Talvez Asimov
especulasse sobre o destino do modo de vida dominante à época, primeiramente
desafiado pelo colapso da balança de poder entre as potências europeias (na
Primeira Guerra Mundial) e anos depois por um regime totalitário que a todos
queria subjulgar. Assim, talvez as duas fundações pudessem representar as
democracias e seus valores civilizatórios em perigo.
Já para a figura
de Seldon e seus colaboradores seria possível estabelecer um paralelo com a
idéia de Platão, de sábios a conduzir o destino da sociedade, em que a ciência
teria as melhores soluções para os conflitos inerentes da natureza humana. Aqui
poderíamos compreender as implicações da história de um ponto de vista mais
autoritário.
Seja qual
interpretação for mais relevante – ou outras, a depender da interpretação de
cada um –, o fato é que a Trilogia da Fundação é uma obra significativa,
pois vai além do tradicional das histórias de exploração do espaço que,
procuravam mostrar muito da visão anglo-americana de como se constituir a
melhor forma de sociedade. Em Fundação tais alicerces são construídos
para depois serem questionados, a partir de desafios políticos e surpresas do
destino.
Durante os anos 1980
esta obra foi publicada pela editora Hemus, de São Paulo, em um único volume. A
edição era modesta, mas simpática e, melhor, econômica. O relançamento ocorre
em três volumes separados, o que encarece a compra. Ainda mais porque a edição
é bem produzida, com uma tradução melhor do que a anterior, ainda que as
ilustrações de capa destoem do espírito da obra. Quem tem a edição da Hemus
deve preservá-la já que ela é única também com relação ao conteúdo, pois é a
tradução da obra original escrita nos anos 1940. Já a da Aleph contempla uma
revisão realizada por Asimov em meados dos anos 1980 para padronizá-la em
relação ao conjunto de suas obras de ficção científica, já que ele passou a
escrever outras aventuras dentro deste universo. Seja por qual edição for, o
excitamento pelo entretenimento inteligente ou por debates políticos-filosóficos
subjacentes, garante uma leitura rica e ilustrativa da própria evolução do
gênero no século XX.
– Marcello Simão Branco
Acho que, dado o contexto cultural na publicação, Segunda Funcacao = Marxismo, que pretendia ser uma Ciencia de História. Seria um Marxismo, atualizado pela Econofisica, Sociofisica e Fisica Estatística. Já a Primeira Fundacao é o mundo capitalista, tecnológico, como é melhor visto no Fundations Edge pelas comparações entre a presidente da Segunda Fundacao e Margareth Tatcher. O Mulo, um mutante que domina as massas de um momento para outro, seria Hitler.
ResponderExcluir