“Gosto de noites
escuras. Lembre-se, os abutres sobrevoam os locais de morte. Eu quase ouço o
barulho de suas asas.”
O cineasta espanhol Jesús
Franco (1930 / 2013) tem um currículo imenso como diretor e roteirista,
principalmente de filmes bagaceiros de horror com qualidade questionável e
orçamentos reduzidos. Vários deles em parceria com o ator suíço Howard Vernon,
como “A Virgem e os Mortos” (A Virgin Among the Living Dead (França,
1973).
A jovem Christina Benton (Christina von Blanc)
recebe a notícia da morte misteriosa de seu pai, Ernesto (Paul Muller), que não
conhecia pessoalmente, e vai para o sinistro e isolado castelo de sua família num
local remoto para participar da leitura do testamento. Chegando lá, ela conhece
seu tio Howard (Howard Vernon) e outros parentes como a tia (Rosa Palomar) e a
bela Carmencé (a portuguesa Carmen Yazalde, creditada como Britt Nichols), além
do tosco empregado Basilio (muito bem interpretado pelo diretor Jesús Franco),
que fala com dificuldade e tem um comportamento estranho, e da jovem Linda, uma
misteriosa garota cega (Linda Hastreiter). Christina sofre com pesadelos
terríveis e mistura o tempo todo a realidade com devaneios onde mensagens de
seu pai falecido, alertando-a dos perigos que rondam o castelo e a estranha
família.
“A Virgem e os Mortos” é um
título que já é “spoiler” ao revelar o drama da mocinha atormentada pelos
mortos-vivos do castelo. É um daqueles filmes “exploitation” bagaceiros cujos cartazes
promocionais chamativos despertam a curiosidade (é só ver a bela capa do DVD
nacional), além de uma história com elementos interessantes envolvendo o
mistério de uma família bizarra num castelo gótico com atmosfera onírica perturbadora.
Só que o filme entrega um pouco menos do que se espera pelas boas premissas. O
ritmo narrativo é algumas vezes excessivamente lento e a confusão constante
entre realidade e pesadelo atrapalha o entendimento da história.
Por outro lado, temos uma boa
dose de cenas de nudez das belas atrizes, especialmente Christina von Blanc,
que é muito bonita, mas que teve uma carreira bem curta. E além do desfecho
pessimista e carregado com uma atmosfera macabra, existe um desconfortável
sentimento de morte e horror na maior parte do tempo, acentuado pelas boas atuações
dos experientes atores Howard Vernon e Paul Muller, que interpretaram
respectivamente o tio misterioso e o pai suicida da protagonista Christina.
Vale a pena registrar duas
cenas em especial, que se destacam de forma convincente na construção de um clima
de horror, ambas com o ator Paul Muller fazendo aparições fantasmagóricas ao se
comunicar com a filha em suas visões. A primeira ocorre na floresta que cerca o
castelo, onde ele com uma bizarra corda no pescoço se movimenta para trás como
um cadáver flutuando em meio às árvores, e a outra cena é quando ele está
sentado numa cadeira e é arrastado para a escuridão pela sinistra “Rainha da
Noite” (Anne Libert), se ocultando no limbo das sombras.
O filme foi lançado em DVD no Brasil
pela “Vinny Filmes” em Janeiro de 2012, na coleção “Clássicos do Terror”, sem
material extra, numa versão reduzida com 75 minutos de duração. Existe outra
versão com cenas adicionais dirigidas pelo francês Jean Rollin.
(Juvenatrix – 03/11/21)
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