O Vagabundo das Estrelas
(L´Orphelin de Perdide), de Stefan Wul. Tradução de Mário Henrique Leiria. Capa
de Lima de Freitas. 154 páginas. Lisboa: Editora Livros do Brasil, Coleção
Argonauta, n. 60, 1960. Lançamento original de 1958.
O popular contrabandista e viajante
espacial Max, a bordo de sua nave, Grande Max, recebe uma mensagem de um amigo
antigo, vindo do planeta Perdide. Desesperado, Claude pede ajuda para resgatar
seu filho pequeno, após ele e sua mulher sofrerem um ataque de vespas gigantes.
Este início é o melhor da história, o momento mais dramático. O suspense em
torno da fuga do pai e seu filho é impactante, ainda mais quando só o menino
sobrevive, tendo como meio de comunicação um aparelho chamado de micro, uma
espécie de drone ovóide, capaz de vencer as barreiras do espaço para
estabelecer uma conversa imediata. Uma espécie de ansível antes do
recurso tecnológico ser melhor desenvolvido pela escritora norte-americana
Ursula K. le Guin (1929-1918).
E é por meio do aparelho que Max
passa a orientar a criança e decide partir até Perdide para salvá-lo. Mas não
será tão simples, já que ele estava em viagem transportando um casal (Martin e
Belle) para o planeda Sidoine. Mas em nome da amizade ele muda a rota para
Perdide, com a promessa de depois levá-los ao seu destino, ainda que sob
protestos de Martin, um sujeito egoísta e com ciúmes de sua bela esposa, mesmo
que Max não demonstre maior interesse nela. Aliás, é curioso também como Wul se
debruça em descrever fisicamente Max em várias páginas, como um negro bonito,
alto e musculoso que anda seminu em sua nave.
Perdide é muito longe e para encurtar
a viagem de 85 dias numa velocidade crescente em direção à da luz, Max resolve
utilizar o recurso de pegar carona gravitacional em outros corpos celestes.
Assim, a Grande Max chega ao paradisíaco planeta Devil-Ball, cheio de belezas
naturais, onde encontra outro velho amigo, Silbad. Este, tocado pelo drama,
resolve acompanhá-los na tentativa de resgatar o menino. Mas, antes ainda param
em Gama 10, onde Martin foge, após ser flagrado tentando orientar o menino a entrar
num lago para se afogar. Na tentativa de capturar o infeliz, Max e Silbad são raptados
por uma horda nativa, que é liderada por um sujeito chamado de Mestre, que
conserva o seu poder ao manter cativa uma fera monstruosa que se alimenta,
entre outras coisas, de carne humana. Quem o desobedece vira comida do bicho.
Eventualmente, eles conseguem escapar e retomar sua rota original.
Como se percebe, há uma quebra de
expectativas, pois ao leitor é sugerido que o objetivo imediato da história é a
tentativa de resgate do menino e suas consequências. Mas uma série de situações
novas e arriscadas acontecem sem que se perca, contudo, o fio condutor do
enredo. É que com este recurso, é mostrado o estilo de vida despojado de Max,
conhecido quase que como uma lenda pela galáxia.
Mas Wul ainda reserva uma surpresa no
final do livro, pois ao finalmente chegarem a Perdide são surpreendidos por uma
frota espacial em órbita. Eles descobrem que o planeta está amplamente habitado
e urbanizado, ao contrário do que conheciam dele. Não encontram mais o menino,
pois percebem estupefatos que foram vítimas de uma dilatação temporal que
produziu um atraso de um século em sua jornada. Mas Wul deixa tudo mais ou
menos no ar, sem dar detalhes dos motivos da ocorrência do paradoxo temporal, o
que enfraquece o efeito.
Esta aventura destoa do restante de
sua obra, pois o contexto é mais assumidamente juvenil, com uma space opera
explícita. Não há o desenvolvimento de um enredo em torno de um evento coletivo
dramático ou complexo, e com um subtexto político mais ou menos evidente, por
meio do qual os personagens se movem, entremeados por soluções criativas e
surpreendentes. Ora, características todas vistas nos seus seis livros
anteriores – ver as resenhas aqui. Pois O Vagabundo das Estrelas é todo pulp,
mas num sentido fraco, pois o próprio final pode ser vislumbrado por um leitor
mais atento ou experiente.
Este livro também foi adaptado para o
cinema de animação, com o nome de Time Masters (1982), por René Laloux,
o mesmo realizador de Fantastic Planet (1973) – adaptação de O Mundo
dos Draags (Oms em Série; 1957), premiado no Festival de Cannes.
Isso é uma mostra do fascínio que Wul provocou na ficção científica francesa da
segunda metade do século passado, e não sem razão, embora o diretor tenha
escolhido talvez a sua história menos inspirada.
—Marcello Simão Branco
Eu não conhecia este blog, fiquei sabendo pela troca de e-mail entre você (Marcello) e o Pablo Villarrubia Mauso n CLFC
ResponderExcluirMuito bom !
Rogério Peroma
(rogerio.peroma2@outlook.com)
Obrigado Rogério. Fique à vontade para desfrutar do conteúdo. Abraço.
ResponderExcluirGrande texto! Sim, a obra tem uma cara juvenil. O caso é a li quando guri e gostei muito, é claro! Um dos primeiros autores que li além do Asimov. Que legal encontrar novamente o Wul por aqui.
ResponderExcluirAproveito para convidar para a minha incipiente tavernadesmade.blogspot.co