Com este livro, originalmente publicado em 2016 nos EUA, chega ao fim a saga da tribo de adolescentes novaiorquinos que sobreviveu ao apocalipse depois que um vírus altamente agressivo dizimou toda a população adulta na América.
Nos volumes anteriores, Mundo novo (2014) e Nova ordem (2015), vimos como Jefferson, Donna, Petter, Crânio e seus amigos tentam, a todo custo, encontrar uma cura para a praga antes que todos cheguem a idade fatal. Para isso, abandonaram a segurança de sua aldeia protegida por barricadas e algumas armas, e lançaram-se numa jornada de esperança pela Nova York devastada e ocupada por adolescentes violentos, psicopatas, antropófagos, escravagistas e outros tipos igualmente perigosos. A cura foi enfim encontrada, mas ela era apenas o começo do verdadeiro problema que se desenrolava em outras partes do mundo. Na Europa e na Ásia, uma vacina foi produzida e os adultos sobreviveram, bem como toda a parafernália tecnológica a qual estamos acostumados. Mas o desaparecimento dos EUA no cenário mundial causou grandes mudanças no equilíbrio político do mundo e agora todos querem dominar o que sobrou de útil na América, o que significa "arsenal nuclear". A ideia dos governos estrangeiros, especialmente a Inglaterra, é esperar que todos morram na América para então agir com mais liberdade e segurança. Mas a cura de Jefferson os obriga a acelerar seus planos, ainda mais porque há grupos dissidentes que não querem que a nova ordem mundial seja construída sobre uma hegemonia britânica. Um desses grupos, conhecido como Reconstrução, se alia aos garotos na cruzada para salvar o que restou da América. Mas, enfim, as coisas não eram exatamente o que pareciam.
Neste terceiro e último volume, Jefferson e seus companheiros têm de lutar mais um pouco para salvar seus amigos. De volta a Nova York, o plano de Jefferson de unir as gangues em torno da cura fracassou. Traído pela Reconstrução, a "Bola de futebol" e o "Biscoito", os dispositivos de lançamento de mísseis nucleares encontrados no prédio da ONU onde haviam sido abandonados no auge da crise, acabam nas mãos da tribo de Uptown, um grupo belicoso e muito bem armado liderado por um psicopata chamado Evan. Caçado pelos garotos de Uptown, Jefferrson tem de fugir e encontrar algum apoio, e ele vem na pessoa de Donna que, finalmente, retorna à Nova York acompanhada de um comando militar britânico altamente equipado cuja missão é resgatar os dois equipamentos que estão com Evan. A chama do amor entre Jeff e Donna foi severamente afetada pelos eventos do volume anterior. Ainda há uma fagulha, mas nada pode prosperar enquanto o mundo estiver a beira do desastre nuclear total. Contudo, não é uma opção permitir que os dispositivos caiam nas mãos dos britânicos, nem os russos ou dos chineses, que também enviaram tropas para a ilha com o mesmo fim. A esperança repousa na tribo do Harlen, que Jefferson traiu no passado, e o reencontro entre eles pode ser imprevisível.
Weitz, que tem experiência como roteirista e diretor de cinema, desenvolve sua trama através de depoimentos e registros pessoais de personagens-chaves, de modo que, apesar na narrativa ser linear, o leitor obtém uma visão tridimensional do ambiente e das relações entre os diversos núcleos narrativos. O autor tem grande habilidade em modular as vozes dos personagens, mas a produção gráfica ajuda dando a cada um deles uma tipografia diferente, que combina com sua psicologia. E Weitz fez questão de dar personalidade variada a eles, adotando uma linha inclusiva que privilegia minorias e as trata com dignidade. Por exemplo, Petter, que é negro e homossexual, finalmente ganha neste volume seu próprio núcleo narrativo.
Também percebe-se que Weitz se esforçou por atualizar o ambiente, referindo-se a fatos e personalidades mais recentes, como Donald Trump, o Estado Islâmico, por exemplo, que não chegaram a ser citados nos volumes anteriores. Para uma leitura atual, por certo que tais citações acrescentam realismo, mas são elementos datados que podem envelhecer com o passar dos anos.
Apesar de toda a violência, Nova era é um livro para leitores jovens, de leitura fácil e sem grandes complexidades filosóficas, a não ser nas entrelinhas, pois o ambiente permite insights mais sofisticados aqui e ali.
Em toda grande história, vale mais a jornada do que a chegada, e não é diferente com a trilogia de Chris Weitz. Se é preciso um final, então que seja. Por mim, eu estaria muito disposto a seguir acompanhando as desventuras de Jeff e os sobreviventes de sua tribo nesse mundo desfigurado pela peste. Quem sabe, talvez não tenha sido mesmo o The end definitivo.
— Cesar Silva
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