O espanhol Paul Naschy (1934
/ 2009) é um dos grandes nomes do cinema de horror bagaceiro europeu, com uma
carreira imensa como ator, roteirista e diretor. “El Caminante” (1979, também
conhecido pelo título em inglês “The Traveller”) é mais uma pérola obscura de
seu produtivo currículo, dirigindo e escrevendo a história sob o pseudônimo Jacinto
Molina, além de atuar liderando o elenco repleto de belíssimas mulheres em
várias cenas de nudez.
Ele interpreta Leonardo, um
viajante que caminha sem destino, enfatizando um discurso que defende a ideia
que a humanidade é uma raça corrompida de natureza ruim e mesquinha. E que a
religião, os escrúpulos e a consciência são bobagens para fracassados. Segundo
ele, a vida apenas vale a pena com dinheiro e prazer, e que para obtê-los não
se deve medir esforços, sendo permitido matar se necessário, e até vender a
alma ao diabo.
O andarilho encontra em seu
caminho e resgata o jovem Tomás (David Rocha), que era um servo maltratado por
seu mestre, um velho cego. A partir daí, eles andam juntos e Leonardo decide
mostrar como eles poderiam melhorar de vida rapidamente enganando e roubando as
pessoas que cruzassem seu caminho. Para ele, soberba, malícia, ira, gula,
inveja e preguiça são características humanas que facilmente condenam uma alma
ao diabo. Debochando o tempo todo da honestidade e da religião, ele é o próprio
demônio caminhando na Terra, se divertindo com os homens fracos que matam,
roubam, fraudam, invejam e odeiam, terminando sempre nas mãos do diabo.
Entre as peripécias do
obscuro caminhante, com a eventual ajuda do jovem aprendiz, temos vários momentos
onde enganam e roubam tanto ricos como pobres, se escondem num convento, assumem
identidades falsas de religiosos, se aproveitam das freiras, e se envolvem com
prostitutas de um bordel. Entre as vítimas, uma mãe deprimida e com tendências
suicidas depois que é enganada pelo viajante na tentativa de salvar sua filha
doente. Porém, a ganância e falta de caráter os coloca inevitavelmente um
contra o outro, tornando-se inimigos, numa reviravolta que apenas valida a
ideologia de uma humanidade caracterizada essencialmente pela desonestidade.
“El Caminante” é um passeio
do diabo na forma humana pela Terra, com uma história interessante e divertida,
focada na crítica social denunciando a natureza pervertida da humanidade. Com
elementos de humor negro impagáveis como a freira obesa que está sempre
dormindo e soltando gases, ou as conversas hilárias entre Leonardo e Tomás
sobre um incidente no bordel onde o mais jovem foi vítima de uma conspiração do
experiente andarilho.
Curiosamente, Leonardo
utiliza seu poder sobrenatural com o intuito de mostrar para Tomás em imagens
de pesadelos, o futuro da humanidade numa sucessão de cenas perturbadoras e depressivas
de guerras, mortes em campos de concentração e destruição com bombas atômicas.
(Juvenatrix – 26/08/17)
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