Joyland
(Joyland), Stephen King. Tradução de Regiane Winarski. 239 páginas. Rio de
Janeiro: Suma de Letras, 2015. Lançado originalmente em 2013.
No
verão de 1973 o jovem Devin Jones vive uma experiência que muda para sempre sua
vida. Mas não é o fora que leva da namorada por quem era perdidamente
apaixonado. Mas sim ter ido trabalhar num parque de diversões, Joyland, às
margens da praia da cidadezinha de Heaven´s Bay, na Carolina do Norte.
King
conta a sua versão do tema do parque de diversões, uma das tradições do gênero
fantástico e do horror. Mas ao contrário de Ray Bradbury (1920-2012), por
exemplo, em seu fabuloso romance Algo Sinistro Vem Por Aí (1962), o
parque não é itinerante e, mais importante, há um só elemento sobrenatural na
trama. Mas é o suficiente para que o leitor fique ao mesmo tempo fascinado e
desconcertado.
Pois
em Joyland, como descobre Devin logo em seu primeiro dia de trabalho, há um
boato de que uma linda garota foi assassinada no Horror House, em pleno trem
fantasma, e vaga por lá, sendo vista por algumas pessoas que fazem a manutenção
do lugar. Ela é Linda Gray, com a garganta cortada por um serial killer,
que conseguiu escapar da polícia. Esta na maioria das vezes preguiçosa ou
burocrática demais em suas investigações.
Mas
a este plano mais sombrio King nos apresenta Joyland e a tudo o que compõe a
rotina de um parque de diversões de uma cidade do interior: seus trabalhadores,
alguns com ´alma de parque´ – pois vocacionados para esta profissão –, com uma
rotina dura de trabalho para manter tudo limpo e seguro. O show em si, com os
visitantes – chamados pejorativamente de Bobs, pelos funcionários do parque,
algo como os nossos caipiras –, e os brinquedos encantadores, em que eu mesmo
não pude deixar de lembrar de momentos da minha própria infância quando estive
em parques como estes. É incrível como se tornam memórias vívidas e marcantes
por toda a vida.
Devin
aprende logo seus afazeres, ganha a estima e confiança dos colegas de trabalho,
além de fazer novas amizades, como os outros jovens que foram trabalhar no parque
durante as férias, Tom Kennedy e Erin Brook, esta uma das Garotas de Hollywood,
responsáveis por tirar fotos com os visitantes – e que, inclusive, estampa
lindamente a ilustração de capa do livro. Mesmo mal por causa do amor perdido,
Devin decide ficar após as férias, trancando a faculdade na Universidade de New
Hampshire. Menos por causa de Wendy Keegan, sua ex-namorada que o traiu, mas
sim pela curiosidade em descobrir o que de fato aconteceu com Linda Gray.
Principalmente a chance de vê-la, após isso ter ocorrido com o descrente Tom.
Hospedado
numa pensão Devin vai a pé todos os dias a Joyland e avista uma casa à beira da
praia com uma mãe, um menino numa cadeira de rodas e um cachorro. Após certo
tempo os conhece, e descobre que Myke Ross, cheio de sonhos, está com os dias
contados. Se envolve com os dois, e ambos terão uma presença decisiva no
destino de Linda Gray e, principalmente, em sua própria vida, no alto de uma
roda gigante em plena madrugada chuvosa.
O
romance dialoga também com a ficção de crime, no processo de investigação, suas
descobertas, reviravoltas e suspense que se acentua ao longo da história. Narrado
de forma retrospectiva por um adulto que recorda estes acontecimentos quando
tinha os seus 21 anos, Stephen King cria um cenário melancólico e nostálgico
neste romance curto – para os seus padrões –, mas igualmente humano e triste.
Pois,
como é seu costume, sabe criar o clima para nos adentrar no mundo de
personagens extremamente críveis, contextualizar com a cultura contemporânea da
época da história, e nos mostrar como o mal está sempre à espreita e se
manifesta quando e onde menos esperamos. E, o mais terrível: não poupa as
pessoas boas em relação às más. Seja com elementos sobrenaturais ou não. O
craque de sempre em nos contar (e emocionar) com suas histórias.
Esta resenha é em memória de Sérgio Roberto Lins da Costa (1955-2020), grande fã de Stephen King.
– Marcello
Simão Branco
Já deu até vontade de estourar o orçamento comprando o livro.
ResponderExcluirVale a pena Toninho!
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