O diretor americano Jack Arnold (1916 / 1992) é sempre lembrado pelos fãs
do cinema fantástico por causa de vários filmes cultuados produzidos durante os
saudosos anos 50 do século passado, como “O Monstro da Lagoa Negra” e “O
Incrível Homem Que Encolheu”. Sua estréia no gênero foi em 1953 com a primeira
produção da história do cinema de Ficção Científica filmada em 3-D, “Veio do Espaço” (It Came From Outer
Space), do estúdio “Universal”.
Com fotografia em preto e branco, roteiro de Harry Essex, inspirado na
história “The Meteor” do veterano escritor americano Ray Bradbury, o filme
mostra um casal de noivos, o astrônomo John Putnam (Richard Carlson) e a professora Ellen Fields
(Barbara Rush), que testemunha a queda de um
meteoro no deserto do Arizona, chocando-se violentamente contra o solo nas
redondezas da pequena cidade de Sand Rock. Ao investigar de perto o misterioso
objeto que “veio do espaço”, o homem descobre que se trata na verdade de uma
nave extraterrestre, que fica soterrada após um desmoronamento de pedras na
cratera formada por sua queda. O astrônomo observador de estrelas e sua noiva
são desacreditados pela população local e pelos jornalistas sensacionalistas
quando mencionam a chegada de alienígenas ao nosso planeta, sendo vítimas de
gozações e calúnias de auto promoção, enfrentando também a intolerância do
xerife Matt Warren (Charles Drake), que organiza um grupo armado para invadir o
local da queda da nave.
O objeto voador pertence a uma civilização alienígena avançada tecnologicamente,
que descobriu uma forma de viajar pelo espaço sideral, conhecendo novos mundos,
mas um acidente fez com que caíssem na Terra, obrigando-os a entrarem em
contato com os humanos na tentativa de obterem recursos para consertar a nave e
poderem partir. Eles tem o poder de assumir a forma humana, transformando-se
numa réplica fria e sem emoções de qualquer pessoa, como aconteceu com uma
dupla de técnicos que faziam trabalhos na área para a manutenção de postes e
linhas telefônicas, o veterano Frank Daylon (Joe Sawyer) e o jovem George
(Russell Johnson). Os horríveis seres do espaço não são bem recebidos e sentem
a desconfiança e o despreparo da raça humana em aceitá-los como uma civilização
superior e com um visual aterrador, distante da aparência humanoide (os
alienígenas tem apenas um olho central, além de tentáculos e outras
características que os tornam monstruosos aos olhos humanos).
Analisando a história de
mais de 100 anos do cinema fantástico, estou inclinado a escolher numa opinião totalmente
subjetiva que os anos 50 (principalmente) e também a década seguinte, foram o
período mais importante com a produção de filmes de Ficção Científica com
elementos de Horror que ficaram marcados para sempre, explorando temas diversos
e fascinantes como invasões alienígenas, exploração espacial, cientistas loucos
em meio as suas experiências bizarras para o suposto bem da humanidade, homens
transformados em monstros ameaçadores, expedições científicas rumo ao
desconhecido, monstros atômicos gerados pelo descontrole da tecnologia nuclear,
guerras interplanetárias... Em filmes como “O Monstro do Ártico” (51),
“Destino: Lua” (51), “O Dia Em Que a Terra Parou” (51), “Colisão de Planetas”
(52), “A Guerra dos Mundos” (53), “Os Invasores de Marte” (53), “Vinte Mil
Léguas Submarinas” (54), “O Mundo em Perigo” (54), “O Monstro da Lagoa Negra”
(54), “O Monstro do Mar Revolto” (55), “Tarântula” (55), “Vinte Milhões de
Léguas a Marte” (55), “Guerra Entre Planetas” (55), “Godzilla” (56), “A Invasão
dos Discos Voadores” (56), “Planeta Proibido” (56), “Vampiros de Almas” (56),
“Emissário de Outro Mundo” (57), “O Começo do Fim” (57), “O Incrível Homem Que
Encolheu” (57), “A Bolha” (58), “Guerra dos Satélites” (58), “A Mosca da Cabeça
Branca” (58), “O Horror Vem do Espaço” (58),
“O Monstro de Mil Olhos” (59), “Viagem ao Centro da Terra” (59),
“Quarta-Dimensão” (59), e muitos outros mais. E dentro dessa lista interminável
de pérolas do cinema fantástico dos anos 50, temos o divertido “Veio do
Espaço”.
Entre as várias curiosidades e observações interessantes sobre o filme,
podemos citar:
* Temos três outros títulos originais alternativos, “Atomic Monster”,
“Strangers From Outer Space” e “The Meteor”.
* Foram apresentadas duas concepções visuais dos alienígenas para a
aprovação dos executivos da “Universal”, e aquela que foi rejeitada
inicialmente foi aproveitada depois como o monstro mutante de “Guerra Entre
Planetas”, lançado dois anos depois.
* A ideia apresentada pelo filme mostrando os alienígenas se
transformando em cópias de pessoas, assumindo a forma humana, num tratamento
claro do roteiro evidenciando atitudes de xenofobia, também foi utilizada como
o argumento básico de outras preciosidades da
FC como “O Dia em Que Marte Invadiu a Terra” (The Day Mars Invaded Earth, 62) e “Vampiros de Almas”
(Invasion of the Body Snatchers, 56), de Don Siegel, que teve sua história baseada
na obra do escritor Jack Finney, considerada como uma analogia política gerada
pelos efeitos perturbadores da guerra fria e a paranoia americana de invasão
comunista soviética (apesar que o próprio autor não confirma essa intenção
quando escreveu o livro).
* Outra ideia interessante abordada em “Veio do Espaço” é a intenção
dos alienígenas em tentar reparar os problemas da nave que ocasionaram a queda,
para poderem partir de nosso planeta o mais rápido possível, algo que também
aconteceu em “Escravos da Noite” (Night Slaves, 1970), com James Franciscus,
onde os moradores de uma pequena cidade são manipulados e escravizados por
alienígenas que os utilizam como mão de obra para consertar sua nave avariada.
* “Veio do Espaço” é um dos poucos filmes dentro da temática de
“invasão alienígena” que retrataram as criaturas do espaço como pacíficas,
assim como em “O Dia Em Que a Terra Parou”, de 1951. A maioria dos filmes de FC
similares fizeram questão de enfatizar os extraterrestres como hostis e
ameaçadores para a raça humana.
* Em 1996, foi lançada uma desnecessária e oportunista continuação,
produzida especialmente para a televisão e dirigida por Roger Duchowny. Recebeu
o nome original de “It Came From Outer Space II”.
* Em 2004, o escritor Ray Bradbury, autor da história original que
inspirou a produção de “Veio do Espaço”, publicou um livro intitulado “It Came
From Outer Space”, reunindo suas versões para o roteiro do filme dos anos 50.
Bradbury teve várias de suas histórias adaptadas em filmes interessantes como
“O Monstro do Mar” (53), “Fahrenheit 451” (66) e “O Homem Ilustrado” (69).
Veio do Espaço
/ A Ameaça Que Veio do Espaço (It Came
From Outer Space, Estados Unidos, 1953). Universal. Preto e Branco. Duração: 81
minutos. Direção de Jack Arnold. Roteiro de Harry Essex, baseado na história
“The Meteor”, de Ray Bradbury. Produção de William Alland. Fotografia de Clifford
Stine. Música de Irving Gertz e Henry Mancini. Edição de Paul Weatherwax. Direção
de Arte de Robert Boyle e Ruby R. Levitt. Efeitos Especiais de Roswell A.
Hoffman e David S. Horsley. Elenco: Richard Carlson
(John Putnam), Barbara Rush (Ellen Fields), Charles Drake (Xerife Matt Warren),
Joe Sawyer (Frank Daylon), Russell Johnson (George).
(Juvenatrix - 25/07/2007)
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